Ainda não é uma rotina clínica nos hospitais, mas um paraplégico conseguiu andar 100 metros após tratamento com células-tronco, a nova esperança para acidentados e para quem tem doença degenerativa
Redação
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Agora, finalmente, parece que o futuro já começou. O major da Polícia Militar Maurício Borges Ribeiro, de 47 anos, voltou a andar depois de se submeter a um tratamento com células-tronco no Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael, em Salvador, na Bahia. Ribeiro sofreu uma queda durante uma viagem com a família, fraturou a coluna vertebral e perdeu a sensibilidade e os movimentos das duas pernas. A lesão era considerada irreversível, e ele passou 9 anos preso a uma cadeira de rodas. Em abril, passou por uma cirurgia e retirou células de sua própria bacia. Um mês depois, as células-tronco foram injetadas na cervical em um novo procedimento cirúrgico. Os primeiros passos aconteceram 3 meses depois. Apesar de ainda precisar da ajuda de um andador, Ribeiro já consegue caminhar cerca de 100 metros por dia durante as sessões de fisioterapia, imprescindíveis para o fortalecimento das pernas atrofiadas em função dos anos sem uso. “Depois de 9 anos, você perceber que pode se sustentar sobre as próprias pernas é uma sensação muito boa”, disse em entrevista à Agência Estado.
Ribeiro é um dos cinco pacientes já submetidos aos tratamentos experimentais no Hospital São Rafael. Segundo um dos coordenadores da pesquisa, Marcus Vinícius Mendonça, todos os pacientes apresentaram algum tipo de melhora após o tratamento, desde a recuperação parcial da sensibilidade até avanços nas funções motoras. Mas a expectativa é de que a técnica só será totalmente dominada e colocada na rotina médica nos hospitais em 5 ou 10 anos.
As células-tronco são capazes de se dividir e se transformar em qualquer outra célula ou tecido do corpo. Dessa forma, é possível retirar células-tronco de ossos ou do sangue e obter tecidos pulmonares ou cardíacos, por exemplo. “No início existia o receio de que aquela célula injetada se reproduzisse de maneira descontrolada, mas hoje já se sabe que ela se comporta conforme o ambiente em que é injetada”, explica a gerente técnica do laboratório Excellion, único autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a fazer manipulação das células-tronco para uso humano. Lá são processadas células-tronco a partir de material genético que seria descartado depois de uma cirurgia plástica ou proveniente do cordão umbilical. “Não há autorização para fazer doação de célula-tronco. Todos os tratamentos são feitos com material colhido dos próprios pacientes”, explica Rosana.
A dermatologista Elizabeth Sojka Arraes tem desenvolvido pesquisas para o tratamento de vitiligo, uma doença autoimune que produz a despigmentação da pele, e tem obtido resultados positivos. O tratamento é feito com células-tronco retiradas de áreas do corpo do paciente não afetada pela doença. “Todos os pacientes submetidos estão com a doença estabilizada. Isso significa que aquela célula-tronco colhida não irá mais manifestar a doença”, explica.
“As células-tronco são o maior avanço da medicina nos últimos anos. Diversas pesquisas têm obtido resultados muito bons no tratamento de doenças cardíacas, reumatológicas, ortopédicas, autoimunes, pulmonares e principalmente as doenças degenerativas”, ressalta o pediatra Adelson Alves, especialista em hematologia e diretor do Centro de Terapia Celular.
Essas e outras pesquisas, que representam a esperança de cura para milhões de pessoas que sofrem com doenças graves que afetam suas vidas, avançaram significativamente depois da aprovação, em 2005, da Lei de Biossegurança. Na época, o projeto gerou imensa polêmica porque permitia a utilização de células-tronco embrionárias, obtidas a partir de embriões humanos, o que para setores conservadores da Igreja Católica e do próprio meio acadêmico representava uma interrupção da vida. Aprovada, a lei impôs restrições e apenas células-tronco obtidas a partir de embriões excedentes de fertilizações in vitro, congelados há mais de 3 anos, podem ser usadas.
Atualmente, as pesquisas com as células embrionárias seguem, mas o aumento do conhecimento sobre as células adultas tem garantido o sucesso da maioria das pesquisas no Brasil. “As células embrionárias são mais potentes, mas as pesquisas ainda precisam avançar. Hoje sabemos dirigir as células adultas para a produção de quase todos os tecidos com segurança”, diz Alves.
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